Originalmente, a cana-de-açúcar é classificada como planta de ciclo anual, no entanto, visando o manejo agrícola da cultura, classifica-se a cana-de-açúcar como cultura de ciclo semi-perene, pois a cada quatro ou cinco anos, é necessário que se faça o replantio (reforma) da cultura.
Quanto ao crescimento anual da cana-de-açúcar, recentemente o pesquisador Graham Bonnett (2013), classificou o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da cultura em dez estádios fenológicos, sendo que dos estádios 0 ao 5, refere-se ao desenvolvimento vegetativo, e do 5 ao 9, refere-se ao desenvolvimento reprodutivo, conforme pode-se visualizar na Figura 01,
Estádios fenológicos:
0: Germinação (Semente ) e Brotação (Tolete ou Soqueira)
1: Desenvolvimento Radicular e Foliar
2: Perfilhamento
3: Alongamento do Colmo
4: Desenvolvimento do Colmo
5: Emergência da Inflorescência
6: Florescimento
7: Desenvolvimento do Fruto
8: Maturação das Sementes
9: Senescência
Em termos de produção agrícola (produção de etanol e açúcar), essa classificação fenológica não é muito utilizada, pois os estádios de desenvolvimento reprodutivo não são desejáveis (florescimento). Dessa maneira, classifica-se o crescimento em quatro fases: brotação, perfilhamento, crescimento vegetativo e maturação.
BROTAÇÃO:
A brotação é a primeira fase de crescimento, e tem início após o plantio dos toletes no solo. Em condições de boa umidade do solo e temperatura do ar, a brotação pode-se se tornar visível entre aproximadamente sete a dez dias após o plantio. Na primeira fase da brotação, raízes se desenvolvem a partir da zona radicular, localizados no "nó" do tolete, essas raízes são denominadas raízes Sett, e são responsáveis pelo desenvolvimento inicial das plantas, pelo menos, até o fim da fase de brotação.
Em seguida, ocorre a brotação das gemas localizadas na base de cada entrenó. O primeiro perfilho que pode ser visualizado no campo é conhecido como "esporão", e após o perfilho primário, ocorre a brotação dos perfilhos secundários, terciários e assim por diante, sendo que os demais perfilhos serão emitidos a partir da base do perfilho primário.
Essa primeira fase dura aproximadamente 30 dias, esse tempo pode variar principalmente em função da temperatura do ar e da umidade do solo, sendo que, temperaturas baixas e baixa umidade do solo retardam essa fase. Após a brotação completa de todas as gemas, dá-se início a segunda fase de crescimento.
PERFILHAMENTO:
Nessa fase ocorre a formação dos perfilhos, que futuramente, se tornarão os colmos produtivos. Essa fase vai até os 120 a 150 dias após o plantio (DAP), e também é fortemente influenciado pelo clima e fatores genéticos do cultivar, em que, temperatura baixa e baixa umidade do solo reduzem o número de perfilhos, e também, certos genótipos possuem maior capacidade de perfilhamento. De modo geral, a produção de perfilhos pode chegar entre 25 a 35 perfilhos por metro linear, sendo que o pico de perfilhamento situa-se entre os 120 a 150 DAP.
O principal fator que faz com que as plantas parem de perfilhar é a luminosidade no meristema basal das plantas, localizados próximo ao solo. Quando a incidência de luz no meristema basal reduz em 70%, a planta para de perfilhar e inicia a fase de crescimento vegetativo (alongamento do colmo). De maneira mais detalhada, os primeiros perfilhos formados (primário, secundário e terciário) vão se desenvolvendo, aumentando o índice de área foliar, de tal modo, que esses perfilhos começam a auto-sombrear-se, e quando a luminosidade é reduzida em 70 % na base das plantas, o perfilhamento é inibido.
Por isso, mesmo que a cultura esteja em fases mais avançadas (crescimento vegetativo e maturação), caso ocorra o tombamento das plantas causado pelo vento ou por outros fatores, o perfilhamento será reiniciado, pois o meristema basal voltará a receber luminosidade.
Em relação ao sistema radicular, as raízes Sett são responsáveis pela absorção de água e nutrientes somente até os 60 a 90 DAP. Essas raízes serão substituídas pelas raízes Shoot, que serão as responsáveis pela absorção de água e nutrientes para a planta até o final do ciclo, e essas raízes são originadas a partir da base dos perfilhos, e não do tolete, como as raízes Sett.
CRESCIMENTO VEGETATIVO:
Após o perfilhamento, a planta inicia o crescimento vegetativo, fase em que ocorre o grande crescimento da cultura, aumentando o índice de área folar (IAF), desenvolvimento do colmo (formação de entrenós e diâmetro) e redução no número de perfilhos.
Como mencionado na fase de perfilhamento, o pico de perfilhamento ocorre entre os 120 a 150 DAP, podendo ter entre 25 a 35 perfilhos por metro linear. No entanto, nem todo perfilho formado se tornará um colmo produtivo, em números, aproximadamente, entre 40 a 50% dos perfilhos formados se tornarão colmos produtivos, os demais perfilhos formados ou irão senescer ou irão se tornar os "brotões", que é um perfilho de cana que não senesceu e também não tornou-se um colmo produtivo.
Da mesma maneira que a baixa luminosidade reduz o perfilhamento, a falta de luz faz com que esses perfilhos entrem em senescência, ou seja, os primeiros perfilhos formados sombrearão os perfilhos mais tardios, causando a senescência desses perfilhos. Portanto, os perfilhos que irão até o final do ciclo da cultura, e se tornarão colmo produtivo, são os primeiros perfilhos formados (aproximadamente entre 30 a 60 dias). Normalmente, o número de colmos produtivos na fase da maturação fica próximo de 10 a 12 plantas por metro linear.
O grande crescimento vegetativo ocorre no verão, onde nessa época há maior radiação solar incidindo sobre a superfície do solo devido ao fotoperíodo, bem como, a temperatura do ar e a precipitação pluviométrica é maior. Em condições ideais, nessa fase, a planta pode formar aproximadamente três entrenós por mês e ter doze folhas verdes totalmente expandidas.
É importante ressaltar que, nessa época não é recomendado realizar a colheita das plantas, pois, devido aos fatores climáticos (luz, temperatura e água), a planta possui baixo teor de sacarose no colmo, tendo maior teor de açúcares redutores (glicose e frutose), que são responsáveis pelo crescimento vegetativo.
Nos meses de dezembro e janeiro, o acúmulo de biomassa fresca pode chegar a 25 toneladas por hectare por mês, já nos meses de julho e agosto, o acúmulo de biomassa verde não ultrapassa 5 toneladas por hectare por mês. Dessa maneira, o grande crescimento vegetativo da cultura ocorre no verão, e qualquer fator que atrapalhe o crescimento das plantas nesse período (déficit hídrico, déficit nutricional, pragas, etc) ocasionará em redução no rendimento de colmos.
MATURAÇÃO:
Na cultura da cana-de-açúcar é desejável que as plantas passem por um período de estresse, pois será nesse período que ocorrerá o maior acúmulo de sacarose nos colmos das plantas. E os principais fatores de estresse são a falta de água e baixas temperatura do ar, esses dois fatores, fazem com que as plantas reduzam o crescimento vegetativo e passem a acumular sacarose no. O início da fase de maturação é marcada pela redução na área foliar das plantas, pois as folhas mais velhas entram em senescência, e as plantas ficam com aproximadamente seis folhas verdes. A senescência foliar da planta é uma estratégia para ela se manter viva, reduzindo o número de folhas a planta reduz também a transpiração, reduzindo dessa maneira a exigência em água.
Dessa forma, na região Centro-Sul, o período de maturação da cana-de-açúcar se inicia a partir do mês de março, e vai até meados de outubro. Portanto, a safra da cultura da cana-de-açúcar ocorre no período de outono-inverno. Na fase de maturação o crescimento da planta é fortemente reduzido, dessa maneira, haverá menor quantidade de açúcares redutores (glicose e frutose) e maior quantidade de sacarose. Essa é a fase ideal para a colheita dos colmos, que terão aproximadamente 20 entrenós.
No início da safra (março e abril) o teor de sacarose nos colmos muitas vezes ainda não é o ideal para a colheita, pois nesses meses ainda há disponibilidade de água no solo e temperaturas favoráveis para o crescimento, tanto é, que a maioria das usinas forçam as plantas a acumularem sacarose mais cedo através da aplicação de reguladores vegetais. Já entre junho e agosto, ocorre o pico de maturação das plantas, com maior acúmulo de sacarose, pois normalmente, esses são os meses mais secos e frios do ano.
A partir de outubro, quando a disponibilidade de água e a temperatura começam a aumentar, é normal que haja uma redução no acúmulo de sacarose nos colmos, pois a planta volta a crescer, por isso, é normal que também se faça a aplicação de reguladores, com o objetivo de fazer com que as plantas mantenham valores consideráveis de sacarose, permitindo desta maneira, a rentabilidade da colheita.
É de fundamental importância destacar que, na fase de maturação o crescimento das plantas é muito baixo ou praticamente nulo, dessa forma, a sacarose ficará armazenada nos entrenós formados na fase do crescimento vegetativo, sendo assim, quanto maior for a produção de entrenós, e quanto maior for o diâmetro dos entrenós, maior será o volume disponível de colmo para se fazer o armazenamento de sacarose e portanto, maior será a quantidade de açúcar levada para a indústria.
Os números apresentados referem-se a um plantio realizado em março (cana de ano-e-meio).
Abaixo seguem algumas imagens referentes as fases de crescimento:
Tolete de cana-de-açúcar brotando. Raízes Sett são formadas a partir da zona radicular do nó. |
Brotação da cana-de-açúcar. Na imagem é possível visualizar com detalhe a zona radicular presente no nó do colmo. |
Tolete de cana-de-açúcar brotando. Raízes Sett são formadas a partir da zona radicular do nó. |
Brotação num estádio mais avançado. Fase de emissão do perfilho primário (esporão). |
Brotação dos perfilhos primários da cana-de-açúcar. |
Brotação da cana-de-açúcar. |
Fim da fase de brotação e início da fase de perfilhamento. |
Brotação da cana-de-açúcar: Perfilho primário rompendo o solo (solo argiloso). |
Brotação da cana-de-açúcar em solo arenoso. |
Brotação dos perfilhos primários e secundários da cana-de-açúcar. |
Início do perfilhamento. Perfilho primário, secundário e terciário. |
Início da fase de perfilhamento. |
Imagem do meristema basal. Na imagem é possível identificar o perfilho primário, secundário, e assim por diante, como também, a formação de novos perfilhos a partir da base do perfilho primário. |
Imagem do meristema basal. Na imagem é possível visualizar o local de onde os perfilhos são originados. |
Fim da fase de perfilhamento (Sombreamento da base da planta). |
Início da fase de alongamento do colmo (colmo com 3 a 5 entrenós). |
Perfilho morto devido ao sombreamento. |
Cana denominada "brotão". Colmo que não se tornou colmo produtivo e não senesceu. |
Cana-de-açúcar com 2,5 m e 15 entrenós. (11 meses) |
Cana-de-açúcar com aproximadamente 4,0 m e 25 entrenós (14 meses). |
trabalho muito banaca
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ResponderExcluirMuito bom o artigo. Gostaria de pedir um favor. Sou Professor aposentado da UNESP - Jaboticabal e gostaria de ler o capítulo do Graham Bonnett (2013). Por acaso você tem esse capítulo e pode me passar? Desde já agradeço.
ResponderExcluirMeu email: modesto@fcav.unesp.br
Estou precisando de referências sobre o tempo de rebrota da soqueira em dias. Seria possível disponibilizar algum?
ResponderExcluirIncrível !
ResponderExcluirÓtimo trabalho !!! Parabéns professor.
ResponderExcluirBoa noite !
ResponderExcluirMelhor ilustração e trabalho até hoje, que eu pude visualizar em cana - de - açúcar
Fernando
Agronomo
Rio Verde - GO