Por ser uma espécie C4 a cana-de-açúcar adapta-se bem em ambientes que tenham alta irradiação e temperatura do ar. Ainda, a cana é uma espécie que possui maior eficiência no uso da água (EUA), quando comparada às espécies C3.
Na região Centro-Sul do Brasil, comumente a safra ocorre no período de abril a novembro, não havendo portanto, colheita nos meses de dezembro a fevereiro. A dificuldade de mecanização é um dos fatores que fazem com que não haja colheita no verão, no entanto, o principal motivo está relacionado ao clima. Na região Centro-Sul, no verão ocorre os maiores índices de precipitação, temperatura do ar e maior radiação solar (devido ao maior comprimento do dia). Esses são os principais fatores que estimulam o crescimento vegetativo da cana-de-açúcar, ou seja, nesse período é que ocorre o intenso crescimento e acúmulo de biomassa da cultura.
No entanto, em termos de qualidade de matéria-prima, as plantas não estão aptas para a colheita, pois devido aos fatores climáticos as plantas são estimuladas ao crescimento vegetativo, tendo portanto, baixo teor de sacarose no colmo, lembrando que, a sacarose é o produto de interesse da indústria para produção de etanol e açúcar. Ou seja, nesse período ocorre maior concentração dos açúcares redutores (glicose e frutose), que são utilizados pela planta para o crescimento vegetativo (produção de novas folhas e entrenós).
Em março, com o início do outono, ocorre redução da temperatura do ar, precipitação e radiação solar, dessa maneira, as plantas entram na fase de maturação, ou seja, a cana-de-açúcar passa a aumentar a concentração de sacarose no colmo e a reduzir a concentração dos açúcares redutores, reduzindo dessa maneira, o crescimento vegetativo. Dessa maneira, a maturação e o acúmulo de sacarose é maior nos meses de junho a agosto. A partir de outubro, com o retorno das chuvas e com o aumento da temperatura, as plantas reiniciam o crescimento vegetativo, reduzindo gradativamente a concentração de sacarose no colmo (Figura 02).
Percebe-se portanto, que na cultura da cana-de-açúcar é fundamental que haja um período de estresse, que estimule as plantas a reduzirem e/ou cessarem o crescimento vegetativo e acumular sacarose nos colmos. Na prática ocorre a interação dos diversos fatores climáticos citados acima, no entanto, dentre esses fatores, o déficit hídrico é o mais importante no processo de maturação da cana-de-açúcar.
Em relação a qualidade tecnológica da cana-de-açúcar, mais especificamente em relação a qualidade do caldo; Brix, Pol e ATR são os três indicadores mais utilizados para avaliar se a cana está ou não no ponto de colheita (madura).
O caldo é composto principalmente por água (75 a 90%) e sólidos solúveis, que são açúcares e não açúcares, sendo que, o Brix representa a quantidade de sólidos solúveis totais no caldo. Os sólidos solúveis são constituídos basicamente de açúcares (sacarose, frutose e glicose) e podem representar entre 15 a 20% do caldo e outros compostos como aminoácidos, gorduras, minerais são encontrados em baixas concentrações (menos que 1%). Portanto, o Brix é uma avaliação indireta da quantidade de açúcares presente no caldo, sendo que, quanto maior o Brix, mais madura está a cana. O valor de referência para o Brix é 18°, em que valores superiores a 18° indica que a cana já está no ponto de colheita.
Já a Pol é um parâmetro mais confiável, pois representa a porcentagem em massa de sacarose aparente, ou seja, nesse parâmetro é avaliado apenas a sacarose, que é o açúcar de maior interesse da indústria. O valor de referência para a Pol é de 14, ou seja, quanto maior for o valor da Pol mais elevado será os teores de sacarose.
Por fim, o ATR (açúcares redutores totais) indica a quantidade total de açúcares na cana-de-açúcar e essa unidade é expressa em kg ton (kg de açúcar por tonelada de colmo). O ATR determina o valor que a indústria pagará pela cana-de-açúcar. Na última safra (16/17), o valor médio foi de 133 kg de ATR por ton de colmo (Figura 1), sendo que, a variação mensal dos valores pode ser visualizada na Figura 02.
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Figura 01 - Série histórica dos valores de ATR da safra 08/09 até 17/18 |
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Figura 02 - Valores de ATR ao longo das safras 14/15 e 15/16. |
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