O florescimento da cultura da soja é um fenômeno fisiológico bem complexo, que envolve a interação de vários fatores (latitude da região; hábito de crescimento do genótipo; período juvenil; fotoperíodo; temperatura e umidade de água no solo). Por esse motivo, o compreendimento do florescimento muitas vezes se torna confuso. Nesse sentido, a revisão abaixo tem por objetivo demonstrar de forma didática, porém, com alguns dados científicos a ecofisiologia do florescimento da soja no Brasil.
INTRODUÇÃO
Na safra 2018/19 a cultura da soja
ocupou mais de 35 milhões de hectares no Brasil, com produção de 115 milhões de
ton de grãos e produtividade média de 3.200 kg ha-1. Aproximadamente
85% da produção está concentrada na região Centro-Sul do Brasil, nessa região a
soja é cultivada entre os meses de setembro a março, em que, a época de
semeadura situa-se entre setembro a novembro, com algumas semeaduras tardias em
dezembro, ou seja, a soja é posicionada sempre como a primeira cultura da safra
de verão.
A soja é uma planta de fisiologia C3, e
dessa maneira, seu melhor desenvolvimento ocorre em temperaturas entre 25 a
30°C, como também, a fotossíntese da soja é saturada com 1/3 da radiação
fotossinteticamente ativa (RFA), ou seja, no verão, em dias de céu limpo, a
partir das 08h da manhã já há radiação solar suficiente para que a soja atinja
seu máximo potencial fotossintético, sendo que, o excesso de luz que a planta
recebe entre esse intervalo (08h00 às 18h00) é gasto principalmente pela
fotorrespiração (Figura 1). Ainda, em relação a água, as espécies C3 utilizam
de 500 a 1.000 mL de água para produzir 1 g de massa seca.
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Figura 1. DFFFA (Densidade de fluxo de fótons fotossinteticamente ativa em condições de céu limpo em janeiro, março e junho em Presidente Prudente-SP (Barbosa AM, 2019). |
Já as plantas C4, como cana-de-açúcar, milho, sorgo, milheto, brachiarias, entre outras, tem seu máximo potencial fotossintético em temperaturas de 30 a 35°C. As espécies C4 utilizam de 250 a 350 mL (Figura 2). Dessa maneira, uma planta C4 pode ser até 4 vezes mais eficientes no uso da água do que uma planta C3. Quanto a luz, a fotossíntese das espécies C4 não satura com a radiação solar, sendo assim, quanto mais luz, maior será a fotossíntese, isso é claro, que a planta não estiver sob condições de estresse hídrico, térmico, nutricional, entre outros.
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Figura 2. Fisiologia comparada de espécies C3 e C4 (Barbosa AM, 2019).
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Por esta linha de raciocínio, o correto
não seria posicionar uma espécie C4 como primeira safra? Já que as condições
climáticas entre outubro a fevereiro (maior temperatura e radiação) são mais
favoráveis a essas espécies. O correto não seria posicionar a soja como segunda
safra ou safrinha? Pois as condições climáticas nesse período (menor
temperatura e radiação) seriam mais favoráveis para plantas C3? Pois bem, esse
raciocínio até poderia ser válido se o desenvolvimento da soja não fosse
fortemente influenciado pelo fotoperíodo. Dessa maneira, devido a soja ser uma
planta de dia curto (resposta ao fotoperíodo), a época de semeadura situa-se
entre setembro a dezembro, pois essa característica sobressai sobre a
classificação fisiológica de espécie C3 e C4, ou seja, no
manejo da soja, o posicionamento da época de semeadura está mais relacionado ao
tipo de resposta da planta ao fotoperíodo (planta de dia curto) do que ao tipo
de classificação fisiológica (espécie C3).
Mais especificamente, o fotoperíodo
exerce forte influência sobre o florescimento da cultura da soja. As plantas
podem ser classificadas em plantas de dia curto, plantas de dia longo e plantas
indiferentes.
Plantas de dia curto (PDC): O
florescimento é estimulado quando o fotoperíodo ambiental (Fa) está abaixo do
fotoperíodo crítico (Fc) (Fa ≤ Fc);
Plantas de dia longo (PDL): O
florescimento é estimulado quando o fotoperíodo ambiental está acima do
fotoperíodo crítico (Fa ≥ Fc);
Plantas indiferentes ou neutras: Não
respondem ao fotoperíodo, e sim, a soma térmica; (Ex. Milho);
Obs.: O fotoperíodo crítico refere-se
ao um determinado valor de horas de luz abaixo ou acima do qual a planta é
induzida ao florescimento. Já o fotoperíodo ambiental refere-se ao próprio
fotoperíodo do ambiente, propriamente dito, que varia em função da latitude da
região e época do ano. No caso da soja, as atuais cultivares possuem
fotoperíodo crítico que variam de 14 a 12 horas, portanto, como a soja é uma
planta de dia curto, o florescimento é estimulado quando o fotoperíodo
ambiental fica abaixo desses valores.
Como visto acima, o florescimento da
soja será induzido quando o fotoperíodo ambiental for menor ou igual ao
fotoperíodo crítico e, para a cultura da soja florescer é necessário que ocorra
dois dias de ciclos indutivos para que ocorra a indução floral, ou seja, apenas
com dois dias de ambiente favorável, a soja já pode ser induzida ao
florescimento.
De acordo com Câmara e Heiffing (2000),
a indução floral é uma sequência de eventos bioquímicos que resulta na
manifestação de uma série ordenada de modificações morfofisiológica, resultando
na expressão floral e pode ser dividida em cinco etapas:
1) Percepção do ambiente favorável: a percepção ocorre nas folhas pelo pigmento denominado fitocromo;
2) Produção do estímulo interno: após a percepção pelo fitocromo ocorrerá a produção do estímulo
interno, que provavelmente trata-se das combinações de hormônios endógenos;
3) Translocação do estímulo interno: o estímulo ao florescimento é translocado até as gemas localizadas
nos nós vegetativos;
4) Evocação floral: Atingindo uma certa concentração sobre as gemas, o estímulo
promove a atividade meristemática das células que passam a se multiplicar e a
se diferenciar em primórdios florais;
5) Realização floral: Essa última fase é caracterizada pela única fase visível, em que,
ocorre a expressão máxima do florescimento, e fenologicamente, essa etapa
corresponde ao estádio R1.
Resumidamente, pode-se dizer que a soja
é semeada preferencialmente entre setembro a novembro, pois nesse período, após
a germinação, o ambiente não está favorável para o florescimento. Nesse período
a planta desenvolve-se vegetativamente, aumentando sua área foliar e o número
de ramificações, que por sua vez, aumenta o número de nós, onde futuramente
serão formadas as flores. Portanto, quanto maior for o número de nós, maior
será o potencial de produção de vagens.
Quando o ambiente estiver favorável
para o florescimento da cultura, a planta passará a investir os seus
fotoassimilados na formação de flores e, posteriormente em vagens e grãos.
Dessa maneira, quanto melhor tiver sido o desenvolvimento vegetativo da
cultura, maior será o potencial produtivo, pois uma planta bem formada
vegetativamente tem maior capacidade de atingir altas produtividades.
No entanto, em caso de semeaduras
tardias (a partir de dezembro), a planta terá um período menor de crescimento
vegetativo, o que por sua vez, resultará numa planta de baixo potencial
produtivo devido a menor área foliar e menor ramificação, pois em semeaduras
tardias a soja floresce mais precocemente.
Para entender melhor, é necessário
detalhar três fatores que estão fortemente relacionados com o florescimento da
cultura da soja: genótipo, fotoperíodo e temperatura. Quando
se fala em florescimento da soja, esses fatores não agem isoladamente, pois os
mesmos estão fortemente associados.
Tipos de crescimento da soja
Os tipos de crescimento da soja estão
relacionados a morfologia do caule (haste principal) da planta. Basicamente pode-se
classificar o crescimento em dois tipos: determinado e indeterminado. O
crescimento determinado são genótipos que após o início do florescimento não
emitem mais nenhum vegetativo, ou seja, quando a planta inicia a indução
floral, o crescimento vegetativo é interrompido. Plantas de crescimento
indeterminado continuam emitindo novos nós no caule após o início do
crescimento, sendo que, em certas condições a planta pode crescer de quatro a
cinco vez o seu tamanho após a indução floral.
Relação fotoperíodo crítico x
florescimento da soja
Para um melhor entendimento de como o
fotoperíodo crítico (Fc) influencia no florescimento da soja, observe as
Figuras abaixo. Na Figura 3, exemplifica-se a relação de uma cultivar com Fc de
12 horas na região de Presidente Prudente-SP. A área verde, demonstra o período
que as condições climáticas não estão favoráveis para o florescimento, enquanto
que a área vermelha, demonstra o período de condições climáticas favoráveis ao
florescimento (Fa ≤ Fc). Conforme o exemplo, esta cultivar teria um longo
período de crescimento vegetativo (outubro a abril), em que, o florescimento
nesse caso seria mais tardio.
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Figura 3. Florescimento de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12 horas na região de Presidente Prudente-SP. |
Já na Figura 4, observa-se uma cultivar com Fc de 13 horas. No exemplo,
observa-se que o período de condições favoráveis para o crescimento vegetativo
reduziu, quando comparada a cultivar de Fc de 12 horas. Portanto, quanto maior
for o Fc de uma cultivar, mais precoce será o florescimento e quanto menor o
Fc, mais tardia será a cultivar.
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Figura 4. Florescimento de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 13 horas na região de Presidente Prudente-SP. |
Relação fotoperíodo ambiental x
florescimento da soja
A dificuldade em compreender o
florescimento aumenta quando também considera-se a latitude da região, pois, se
o florescimento ocorre quando o Fa ≤ Fc, logo, o florescimento está diretamente
relacionado com a latitude da região (Figura 5).
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Figura 5. Fotoperíodo ao longo do ano em Latitudes de 0 a 40°S. |
Na sequência de Figuras abaixo, pode-se
observar o efeito da região de cultivo sobre uma cultivar de soja com Fc de
12h30m. Nota-se, que, quanto mais próximo da linha do Equador estiver uma
região, menor será o período de crescimento vegetativo e mais precoce será o
florescimento. Como também, quanto mais ao Sul estiver uma região, maior será o
período de crescimento vegetativo e mais tardio será o florescimento.
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Figura 6. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Sorriso/MT.
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Figura 7. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Rio Verde/GO.
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Figura 8. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Presidente Prudente/SP.
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Figura 9. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Ponta Grossa/PR.
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Figura 10. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Passo Fundo/RS.
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O período juvenil é uma estratégia para
evitar o florescimento precoce
O período juvenil é uma fase em que a
planta se encontra insensível ao fotoperíodo, ou seja, mesmo que haja condições
climáticas favoráveis a planta não entra em indução floral, permanecendo no
crescimento vegetativo. Algumas cultivares de soja apresentam essa
característica, o período juvenil pode ser curto (período de mais ou menos 30
dias desde a emergência, em que, a partir do estádio V1 a soja já teria
condições de "perceber" o ambiente); e também, o período juvenil pode
ser longo (período maior de 30 dias que em algumas cultivares pode chegar até o
estádio V5).
Mas por que o período juvenil é
importante para a soja? A resposta está na manutenção da planta no estádio
vegetativo em regiões mais próxima do trópico. Como exemplo, a região de
Sorriso/MT, note que se posicionar uma cultivar de Fc de 12h30m, a planta logo
após a emergência já tem condições climáticas favoráveis para o florescimento,
e nesse caso, o florescimento se daria com a planta muito pequena, praticamente
não tendo estruturas reprodutivas para atingir altas produtividades (Figura 11).
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Figura 11. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m para
Sorriso/MT.
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Por isso, em regiões de latitudes próximas a linha
do Equador, o período juvenil permite a planta ter um crescimento vegetativo
desejável para que o florescimento ocorra quando a planta apresente bom porte,
podendo dessa maneira, apresentar bons rendimentos. Conforme as Figuras abaixo,
o uso de cultivares que possuem período juvenil curto (PJC) ou longo (PJL) pode
ser uma estratégia para que a planta não floresça, mesmo com condições
climáticas favoráveis.
O período juvenil também é uma estratégia utilizada
para genótipos de crescimento determinado, pois como
essas plantas cessam o crescimento vegetativo após o florescimento, em
situações de semeaduras em regiões de baixa latitude (NO e NE), como também em
semeaduras tardias, a planta entraria no período reprodutivo apresentando porte
muito baixo. Nesse sentido, através do período juvenil a planta teria um
período maior de crescimento vegetativo, aumento dessa maneira, o potencial
produtivo da planta (Figuras 12 e 13).
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Figura 12. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m com
período juvenil curto (PJC) para Sorriso/MT.
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Figura 13. Período indutivo e não indutivo
de florescimento da soja de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12h30m com
período juvenil longo (PJL) para Sorriso/MT.
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Na Figura 14 pode-se observar a típica
resposta de duas cultivares de soja ao fotoperíodo semeadas no mesmo dia e
conduzidas sob o mesmo manejo. A cultivar da esquerda possui PJL, enquanto que,
a da direita PJC.
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Figura 14. Cultivares de soja em resposta
ao fotoperíodo.
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Resposta de diferentes genótipos de soja ao fotoperíodo (Barbosa, 2019). |
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Resposta de diferentes genótipos de soja ao fotoperíodo (Barbosa, 2019). |
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Resposta de diferentes genótipos de soja ao fotoperíodo. (Fonte: Tiago Catuchi, 2019) |
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Resposta de diferentes genótipos de soja ao fotoperíodo. (Fonte: Tiago Catuchi, 2019) |
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Resposta de diferentes genótipos de soja ao fotoperíodo. (Fonte: Tiago Catuchi, 2019) |
A temperatura está fortemente associada
ao fotoperíodo
Quando se fala em florescimento, o
fator temperatura não pode ser desconsiderado e nem desassociado da relação
florescimento x fotoperíodo. A temperatura age nas plantas como promotora ou
inibidora de crescimento. Em temperaturas mais elevadas o metabolismo da planta
é acelerado, ou seja, o crescimento e desenvolvimento ocorre de maneira mais
intensa (mudança dos estádios fenológicos), e dessa maneira, o ciclo da planta tende
a ser menor. Da mesma maneira, em temperaturas menores, o metabolismo da planta
é desacelerado, e dessa maneira, a planta cresce e se desenvolve num ritmo mais
lento, o que por sua vez, aumenta o ciclo da planta.
Por esse motivo em regiões de altitudes
mais baixas o ciclo de uma cultivar pode ser mais curto, do que o mesmo
genótipo em regiões de altas altitudes, pois, para cada 100 m de altitude,
ocorre uma redução na temperatura do ar de 0,6 °C, ou seja, regiões com
altitudes acima de 1.000 m são aproximadamente 3 a 4 °C mais frias do que
regiões com altitudes de 400 a 500 m.
Em estudo realizado por Rodrigues et
al. (2001) demonstrou a relação existente entre a temperatura e o fotoperíodo
na cultura da soja (Figura 15). O número de dias necessários para o
florescimento praticamente caiu pela metade conforme se aumentou a temperatura
(de 19 para 32°C), demonstrando dessa forma, que temperaturas altas aceleram o
desenvolvimento da soja.
Efeito da temperatura e do fotoperíodo
sobre o florescimento
Na discussão acima foi relatado os
efeitos isolados do fotoperíodo e da temperatura sobre o florescimento da soja,
mas no campo, os dois fatores atuam em conjunto exercendo grande influência
sobre o florescimento. Por exemplo, se um genótipo fosse cultivado em uma
situação de Fa ≥ Fc (não indutivo) a soja nunca floresceria? A resposta é não.
Mesmo nessa condição em determinado momento a planta floresceria, no entanto,
em condições mais tardia e em menos intensidade do que numa condição indutiva (Fa
≤ Fc).
Isso está relacionado a fatores
genéticos da planta, que mesmo em condições climáticas desfavoráveis, através
de estímulos endógenos a planta inicia o florescimento, ou seja, mesmo que não
haja condições favoráveis para o florescimento da planta, em determinado
momento a planta irá florescer devido fatores genéticos que controlam o ciclo
de desenvolvimento da planta.
Esse efeito pode ser muito bem
observado em trabalho realizado por Yang et al. (2019), onde os autores
avaliaram setenta e dois genótipos de soja de diferentes grupos de maturidade
em cinco faixas de fotoperíodo. Observa-se que o tempo para florescimento
aumentou em todos os materiais conforme se aumentou o fotoperíodo. No
fotoperíodo de 12 horas o número de dias necessário para o florescimento médio
foi de 26 dias, enquanto que, no fotoperíodo de 20 horas, o florescimento médio
ocorreu aos 99 dias (Figura 16).
Através da soma térmica é possível acompanhar o efeito da temperatura do ar
sobre o desenvolvimento das plantas, sendo este método bastante útil para
curvas de crescimento ou estudo de ciclo de cultivo de plantas, em que, o
acompanhamento deixa de ser por dias após a semeadura (DAS), e passa a ser
considerado o quanto de energia a planta “acumulou” no dia.
Esse método permite mensurar com maior
precisão estádios fenológicos e também, o ciclo da cultura, pois, quando se
considera DAS, não é contabilizado por exemplo o número de dias desfavoráveis
para crescimento (excesso de dias nublados), fato este, que é considerado
através da soma térmica. Dessa maneira, considera-se que cada cultivar possui
um valor específico de soma térmica para fechar o seu ciclo. No Brasil, alguns
trabalhos já foram realizados na cultura da soja, conforme Tabela 1.
Ano
|
Estado
|
Soma Térmica
|
Genótipos
|
Autores
|
2007/08
|
PA
|
1685 a 1770
|
01
|
Souza et al., 2013
|
1978/80
|
SP
|
1030 a 1336
|
04
|
Camargo et al., 1987
|
2008
|
RS
|
1997 a 2910
|
06
|
Rodrigues et., 2008
|
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Figura 17. Florescimento
de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 12 horas na região de Presidente
Prudente-SP.
|
Na Figura 18, observa-se que, se
consideramos somente o efeito do fotoperíodo sobre o florescimento, na situação
de Presidente Prudente, tal genótipo iria ser estimulada ao florescimento
somente em no final de fevereiro, fato este que não ocorre na prática, sendo
que, neste período a cultura praticamente está encerrando o seu ciclo, por
isso, é de fundamental importância a compreensão da relação temperatura x
fotoperíodo.
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Figura 18. Florescimento
de uma cultivar com fotoperíodo crítico de 13 horas na região de Presidente
Prudente-SP.
|
Em trabalho realizado por Barbosa et
al. (2017) em dois tipos de solo na região de Presidente Prudente foi possível
observar o efeito do fotoperíodo em cinco épocas de semeadura de soja. A altura
de plantas e o número de vagens (dados não mostrados) reduziram conforme
ocorreu o atraso da semeadura, ou seja, em plantios tardios a planta teve um
período curto de crescimento vegetativo e logo já foi induzida ao
florescimento. O menor porte das plantas ocasionou em redução em mais de 40% na
produtividade de grãos.
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Figura 19. Altura de
plantas e produtividade de soja em cultivo em dois tipos de solo na região de
Presidente Prudente. Fonte: BARBOSA AM, BUENO G, SANTOS SE, 2017.
|
Esta relação pode ser muito bem
visualizada no trabalho elaborado por Cober et al. (2001) que avaliou seis
genótipos de soja em cinco fotoperíodos e em duas temperaturas (28 e 18 °C). Na
temperatura de 28º com o fotoperíodo mais indutivo (10 a 14 horas) o
florescimento da soja ocorreu próximo ao 26 dias, enquanto que, nessa mesma faixa de fotoperíodo (10 a 14
horas) com a temperatura de 18°C o florescimento ocorreu próximo aos 50 dias,
ou seja, as plantas praticamente dobraram o tempo necessário para florescer em
função da redução da temperatura (Figura 20). Já quanto ao fotoperíodo, em
28ºC, fotoperíodos menores (10 a 14 horas) promoveram florescimento aos 26
dias, enquanto que, em fotoperíodo maior, (20 horas) as plantas floresceram
entre 80 a 90 dias. O mesmo efeito ocorreu aos 18°C, onde o florescimento ocorreu
entre 40 a 60 dias em função do fotoperíodo.
Ainda, em trabalho realizado por
Ohigashi et al. (2019) foi observado que em diversos fotoperíodos o
florescimento de alguns genótipos de soja foi aos 29 dias com temperatura de
25°C e de 76 dias aos 15°C. Essa relação pode ser exemplificada mais didaticamente
na Figura 21. Pode-se observar que o florescimento da soja é antecipado
conforme se aumenta a temperatura e se reduz o fotoperíodo ambiental. Dessa
maneira, o florescimento é o resultado do estímulo térmico e fotoperiódico de
uma determinada região de cultivo relacionado às características genotípicas da
planta.
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Figura 21. Efeito
da temperatura e do fotoperíodo sobre o florescimento da cultura da soja.
|
Dessa maneira, cada genótipo possui um
período geneticamente programado de duração em função do acúmulo de energia
referente a cada estádio fenológico, como por exemplo, o florescimento, sendo
que, essas fases variam em função das condições edafoclimáticas da região. No entanto,
o fotoperíodo atua como um estímulo externo antecipando ou retardando o início
do florescimento na cultura da soja.
O grupo de maturidade padroniza o ciclo
da soja nas regiões do Brasil
Pelo fato de a soja ter essa forte
interação com o ambiente, alguns erros eram muito comuns na cultura da soja.
Por exemplo, uma cultivar de soja que apresentava ciclo de 110 dias no Mato
Grosso, quando cultivada no Sul do Brasil, apresentava um ciclo maior, chegando
a 120/130 dias. Da mesma maneira, uma cultivar que apresentava ciclo de 120
dias no Paraná, quando cultivada na região Centro-Oeste, apresentava redução no
seu ciclo, sendo superprecoce, com ciclo de 100 dias. Essa variação causava
muitos transtornos e incertezas para o produtor e técnicos da área.
Dessa maneira, para minimizar esses
erros e de modo a promover uma padronização da classificação do ciclo da soja,
foi desenvolvido por Alliprandini et al. (2009) uma metodologia que classifica
a soja por Grupo de Maturidade Relativa (GMR) no Brasil. Essa
classificação substituiu a antiga classificação de ciclos (superprecoce,
precoce, médio, semi-tardio e tardio (Alliprandini et al., 1994).
O conceito GMR teve inicio nos Estados
Unidos (Poehlman, 1987) e no Brasil teve início a partir de 2009 com um
dos primeiros trabalhos realizados por Alliprandini et al. (2009). Nesse
sistema, as regiões são classificadas numericamente em função da latitude.
Ressalta-se que quando as cultivares são semeadas nas regiões onde estão
recomendados o seu GMR, a duração do ciclo é próxima de 125 a 140 dias para
todos os GMRs (Zanon et al., 2015).
Os GMR são mais próximo de 10 quanto
cultivadas próxima ao trópico e, de acordo com que se cultiva mais para o Sul
do Brasil os valores vão diminuindo. A região Centro-Oeste situa-se no GMR
entre 7 a 8, enquanto que a região Sul e Sudeste fazem parte dos GMR de 5 a 7
(Figura 22).
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Figura 22. Distribuição dos grupos de maturidade relativa de cultivares de soja no
Brasil em função da latitude. Fonte: adaptado de Allinprandini et al. (2009).
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Em estudo realizado por Beixara et al.,
2018, foi observado correlação positiva entre a época de semeadura com o ciclo
de diversas cultivares para diferentes grupos de maturidade, em que, quanto
mais tardia for realizada a semeadura, menor será o ciclo da planta. Os autores
observaram variação de 13 a 17 dias em diversos GMR em função da época de
semeadura (Figura 23).
Através do grupo de maturidade é
possível estimar o ciclo de cultivo de cultivares que são cultivadas fora da
sua faixa de GMR. Considera-se que para cada décimo de variação no GMR, o ciclo
da planta é alterado em dois dias. Por exemplo, uma soja de GMR 8.0, quando
cultivada numa região de GMR 7.5 teria um aumento de 10 dias em seu ciclo (pois
quanto mais ao Sul do Brasil, mais tardio é o ciclo da planta). Da mesma maneira,
uma cultivar de grupo 6.2, quando cultivada em região de GMR 7.0, teria redução
no ciclo de aproximadamente 14 dias, pois quanto mais ao Norte do Brasil, mais
precoce é o ciclo da planta.
O déficit hídrico também influencia no desenvolvimento da soja
Outro fator que exerce grande influência no desenvolvimento da soja é o déficit hídrico. Na discussão realizada acima, considerou-se principalmente condições favoráveis de água no solo. No entanto, grande parte da soja cultivada na região Centro-Sul do Brasil se dá em condições de sequeiro (não irrigada) e a água é o principal fator limitante de produtividade em regiões tropicais.
Quando a planta está em condições de déficit hídrico, ocorre redução na divisão e alongamento celular, o que por sua vez, causa redução no porte da planta, principalmente devido a redução da área foliar. A consequência é a redução na formação de nós, que por fim, causa redução nos componentes de produção (número de vagens e grãos por planta) (Figura 24). Ainda, em situações de déficit hídrico mais severo, a senescência da planta é antecipada, fazendo com que a planta antecipe seu ciclo.
Quando a planta está em condições de déficit hídrico, ocorre redução na divisão e alongamento celular, o que por sua vez, causa redução no porte da planta, principalmente devido a redução da área foliar. A consequência é a redução na formação de nós, que por fim, causa redução nos componentes de produção (número de vagens e grãos por planta) (Figura 24). Ainda, em situações de déficit hídrico mais severo, a senescência da planta é antecipada, fazendo com que a planta antecipe seu ciclo.
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Figura 24. Efeito do déficit hídrico na planta de soja (Fonte: Tiago Catuchi, 2012). |
Referências
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Boa tarde, muito interessante.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo!
ResponderExcluirShow, muito bom mesmo.
ResponderExcluirBoa tarde, trabalho no estado do Mato Grosso. Venho reparando que algumas regiões como Nova Xavantina - MT e Nova Lacerda - MT, não está tendo correlação a época de plantio e a produtividade, como encontramos no norte do estado. Teria uma explicação?
ResponderExcluirAgradecido.
ResponderExcluir