quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Manejo varietal em cana-de-açúcar

Um dos grandes desafios que o setor canavieiro vem enfrentando é o aumento da produtividade. Nas últimas décadas, a maior média observada na região Centro-Sul ocorreu entre 2009 a 2010, com produtividade próxima a 86,0 t ha-1. No entanto, nos últimos anos houve redução de 15%, em que, atualmente a média está próxima a 73,0 t ha-1.

A tarefa não é fácil, pois vários são os fatores que influenciam o potencial produtivo da cana-de-açúcar. Na Figura abaixo estão representados 13 fatores: ambiente de produção, clima, preparo de solo, manejo da fertilidade, plantio, tratos culturais(controle de plantas daninhas, pragas e doenças; maturadores), compactação do solo, manejo da palhada, sistemas de colheita e genótipo. Como representado na Figura, o genótipo ocupa o topo máximo da pirâmide, pois praticamente o potencial da cultura ocorre em função da capacidade da planta em se relacionar com todos os demais fatores.


Fatores envolvidos no potencial produtivo da cana-de-açúcar (Barbosa, 2019)

Segundo Paul Moore, um dos grandes pesquisadores da cultura da cana-de-açúcar, a produtividade da cana-de-açúcar está restrita a três fatores: agronômicos, ambientais e fisiológicos, e que, só a partir do conhecimento e manejo correto, é possível sairmos dos atuais níveis de produtividade de modo a se atingir o potencial produtivo da cultura.

Como pode-se observar na Figura abaixo, para que a produtividade atual suba para a produtividade atingível, deve-se primeiro corrigir as restrições agronômicas, que diga-se de passagem, ainda tem sido o grande gargalo da cultura, como por exemplo: sistemas de preparo de solo, plantio e colheita. Com a adoção de manejos corretos, a cultura passa a ser limitada por restrições ambientais, que estão relacionadas aos fatores climáticos (chuva, temperatura, CO2 e radiação), nesse caso, basicamente podemos atuar de duas maneiras: uso de irrigação para fornecimento de água e posicionamento da cultura em regiões com condições climáticas mais favoráveis para o desenvolvimento da cana (zoneamento agroclimático). E por fim, a produtividade da cultura está relacionado a restrições fisiológicas, onde, essa restrição está mais relacionada ao genótipo. No entanto, é importante salientar, que a produtividade em todos os níveis de restrições sofrem forte influência do fator genético.


Através do manejo varietal busca-se potencializar a produtividade da cana-de-açúcar nos melhores ambientes, como também, em ambientes desfavoráveis, busca-se maior estabilidade produtiva. Para escolha da variedade a ser cultivada, deve-se atentar aos seguintes fatores:

1. Plantio (Época e brotação)

Refere-se a variedades que apresentam comportamento diferente em função da época de plantio, bem como, variedades que apresentam brotação mais lenta. Na imagem abaixo é possível ver a diferença de brotação de duas variedades plantadas no mesmo dia.
Variedades RB855156 (abaixo) e RB867515 (acima)
2. Tolerância a doenças

Um dos grandes aspectos do manejo varietal refere-se a tolerâncias das variedades a doenças, sendo esse, um dos motivos que não é recomendado que uma variedade ocupe mais de 20% da área. Na imagem abaixo, é possível visualizar a susceptibilidade da variedade RB835486 a ferrugem, enquanto que a RB92579 apresenta tolerância.

Fonte: Sebastião Ribeiro - Grupo Raízen

3. Acamamento e florescimento

A susceptibilidade ao acamamento e ao florescimento deve ser muito levado em questão durante o planejamento do plantel varietal.


Variedade RB855156 que passou por um acamamento

Variedade susceptível ao florescimento


4. Ciclo de maturação

De maneira geral, na região Centro-Sul do Brasil, todas variedades atingem o nível máximo de sacarose entre agosto a setembro. No entanto, algumas variedades conseguem acumular sacarose mais rápido do que outras, e por isso, são chamadas de precoces, como também, algumas variedades demoram mais e conseguem manter por mais tempo, e por isso, são chamadas de tardias. É possível notar essa classificação na Figura abaixo:

Canas precoces: colheita entre abril a junho;
Canas médias: colheita entre julho a setembro;
Canas tardias: colheita em outubro a novembro;

Para que sempre a colheita seja realizada no período de maior riqueza da cana, recomenda-se que as variedades sejam distribuídas da seguinte maneira: 40% precoce; 30% média e 30% tardia.



5. Ambientes de produção

Quanto ao ambiente de produção, segundo Marcos Landell, as variedades podem ser classificadas em três grupos:
Estáveis: são as variedades que respondem a uma condição mais favorável de cultivo, mas que também apresentam bom desempenho em condições desfavoráveis;
Responsivas: são as variedades que tem grande resposta a uma condição favorável de cultivo, mas que não se adapta em ambientes mais restritivos;
Rústicas: são as variedades que se adaptam a ambientes mais restritivos, mas que não apresentam boas respostas a condições mais favoráveis de cultivo.

Adaptado de Landell et al., 2006 (Manejo varietal em cana-de-açúcar)


6. Clima

É comum a ocorrência da variação na produtividade de uma mesma variedade, alocada no mesmo ambiente de produção, mas em locais (regiões diferentes). Dessa maneira, a produtividade pode ser influenciada devido aos fatores climáticos (temperatura do ar, radiação solar, altitude, precipitação e umidade relativa do ar). A imagem abaixo mostra o desenvolvimento mais intenso de três variedades de cana-de-açúcar aos 05 meses após o plantio, sendo que a instalação de ambas as áreas ocorreram no mesmo dia. A temperatura média foi de 2°C mais quente na região de Presidente Bernardes-SP, o que estimulou a brotação e o perfilhamento da cultura.


Variedades SP80-3280, RB855156 e RB867515 aos 5 meses após o plantio em duas regiões distintas


7. Outros

Outros fatores também podem afetar o manejo varietal, mas que no entanto, possuem menor impacto do que os mencionados acima, como por exemplo: sensibilidade a herbicidas, sensibilidade à colheita mecanizada, susceptibilidade a pragas, etc.

Variedade sensível a herbicida

Algumas variedades podem ter redução na brotação da soqueira no sistema de colheita mecanizada


Censo Varietal

Na imagem abaixo é possível visualizar as 10 variedades mais cultivadas na região Centro-Sul do Brasil segundo último censo do IAC.











sábado, 9 de fevereiro de 2019

Sistemas de plantio na cultura da cana-de-açúcar


Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil há dezenas de anos, sendo que, o grande crescimento se deu principalmente a partir do programa Proálcool (1975). Hoje, a cana-de-açúcar está sendo cultivada em aproximadamente 9 milhões de hectares, no entanto, apesar da cultura ser uma das primeiras a chegar no Brasil, e ser uma das culturas mais plantadas, o sistema de plantio ainda não está bem consolidado e tem sido fonte de discussão de muitos técnicos, profissionais e pesquisadores no Brasil.

Atualmente, podemos classificar em três tipos de sistemas de plantio:
(i) Convencional (semi-mecanizado); (ii) Mecanizado; (iii) Mudas Pré-Brotadas (MPB)

Nos últimos anos, o sistema convencional (semi-mecanizado) tem sido substituído pelo sistema mecanizado, como também, tem aumentando o plantio de mudas pré-brotadas (MPB). Todavia, algumas unidades que adotaram o sistema mecanizado, tem voltado a utilizar o sistema convencional, devido a uma série de desvantagens do sistema mecanizado que veremos mais abaixo.

O SISTEMA CONVENCIONAL consiste de operações mecanizadas e manuais, e por isso, devido a maior mão de obra, acaba sendo mais oneroso do que o plantio mecanizado, no entanto, a qualidade de plantio deste sistema é muito superior ao plantio mecanizado, principalmente, pelo menor índice de falhas e melhor estabelecimento do estande de plantas.

Fonte: Facebook - Sistema Canavieiro

Fonte: Facebook - Sistema Canavieiro


Pode-se separar este sistema de plantio em 6 etapas:

1. Corte manual das mudas (Manual)
Nesta etapa é realizada a colheita manual das mudas, deve-se tomar muito cuidado para evitar danos nas gemas, o que reduz a brotação. Como também pode ser realizado a despalha das plantas, principalmente de variedades que possuem folhas mais "presas" ao colmo, o que por sua vez, também pode afetar negativamente a brotação. Durante o corte, as mudas vão sendo dispostas em feixes para facilitar o carregamento.

Obs.: A idade ideal das mudas é de 08 a 12 meses (plantio convencional e mecanizado).

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

2. Carregamento e transporte das mudas (Mecanizado)
O carregamento nos caminhões canavieiros é realizado por tratores conhecidos como "motocana".

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

3. Abertura dos sulcos de plantio (Mecanizado)
A abertura dos sulcos é realizada por sulcadores, que já realizam a adubação de plantio no fundo dos sulcos. A profundidade recomendada é entre 20 a 30 cm. O sulco deve ser realizado no dia do plantio, e deve-se evitar ao máximo deixar o sulco aberto por muito tempo, principalmente em dias quentes e secos, pois se o sulco ficar aberto durante muito tempo, ocorrerá grande evaporação da água das laterais do sulco, e dessa maneira, após o plantio, o solo poderá "roubar" água dos toletes e desidratar as mudas.

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa
Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


4. Distribuição dos feixes de mudas (Mecanizado)
Através das motocanas os feixes de mudas são distribuídos na área de plantio ou através de funcionários que ficam sobre o caminhão de mudas e vão distribuindo as mudas (Vídeo abaixo);

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa




Fonte: Facebook - Sistema Canavieiro




5. Distribuição das mudas no sulco e seccionamento (Manual)
Nessa etapa é realizada a distribuição das mudas nos sulcos de plantio, que preferencialmente deve ser no sistema "pé com ponta", para evitar falhas de plantio, em vista de que o terço superior da planta possui maior brotação, enquanto que, o terço inferior apresenta baixa brotação. Ainda, as mudas são dispostas basicamente de três maneiras. Neste sistema são plantadas aproximadamente entre 12 a 18 gemas viáveis por metro, sendo que, esse número varia em função da variedade (variedades com entrenós mais curtos) e idade das mudas (variedades velhas apresentam menor brotação). O gasto fica entre 08 a 12 toneladas por hectare.
Após a distribuição recomenda-se realizar o seccionamento das mudas em toletes de 40 a 50 cm, de modo a acelerar a brotação. O seccionamento é recomendado principalmente para mudas mais velhas.

Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa
Mudas inteiras (Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa)

Toletes seccionados (Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa)

Toletes seccionados (Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa)

Toletes seccionados (Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa)



Fonte: Alexandrius de Moraes Barbosa


6. Cobrição (fechamento) dos sulcos (Mecanizado)
Esta etapa encerra o plantio, em que, durante a cobrição pode ser aplicado inseticidas para controle de pragas de solo e/ou bioestimulantes sobre o tolete. Recomenda-se que a cobrição seja realizada com uma camada de aproximadamente 10 cm de solo, pois o restante da cobrição ocorrerá naturalmente com as chuvas. Em solos mais argilosos deve-se tomar muito cuidado com a camada de solo sobre as mudas, pois caso ocorra uma chuva "pesada" após o plantio e em sequência um período de seca, o solo fica muito resistente, o que pode levar a falha na brotação.



No SISTEMA MECANIZADO, todas etapas acima são realizadas mecanicamente. A grande vantagem deste sistema está na operacionalidade e redução de custo. No entanto, o plantio mais raso (exposição de toletes), a falhas de plantio e o maior gasto de mudas, são fatores negativos deste sistema.

http://www.agrop.com.br/plantio-mecanizado/
Fonte: Agrop.com.br

As etapas do plantio mecanizado podem ser separadas basicamente em três:

1. Colheita e transporte dos toletes
A colheita das mudas é realizada por colhedoras de cana adaptadas para reduzir danos nos toletes. No entanto, sabe-se que a brotação da cana nesse sistema chega a ser 40% menor, devido ao danos que ocorrem nos toletes durante o processo de corte, transporte, transbordo e plantio. O tamanho dos toletes é de 30 a 50 cm.

WA Rural


2. Transbordo dos toletes nas plantadora de cana
Os toletes são transferidos para as plantadoras de cana-de-açúcar.


Divulgação Raízen - Revista Cana Online


3. Sulcação, distribuição e fechamento dos sulcos
As atuais plantadores de cana-de-açúcar realizam a abertura dos sulcos, adubação no fundo de sulco, distribuição das mudas, aplicação de inseticidas ou bioestimulantes e também a cobrição dos sulcos. Pelo fato mencionado acima, da menor brotação no sistema mecanizado, o número de gemas aumenta, ficando próximo a 25 gemas por metro, o que eleva o gasto de mudas para mais de 20 ton ha-1. Esta terceira etapa é bem demonstrada no vídeo abaixo:



O sistema de plantio MPB - Mudas Pré Brotadas, é o mais novo dos sistemas e foi desenvolvido pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas). O diferencial deste sistema é o preparo das mudas antes do plantio.

Revista Cana Online - N°55 junho de 2018
Revista Cana Online

O sistema MPB tem sido utilizado principalmente em áreas de viveiros e no plantio "meiosi", sistema que ocorre o consórcio da cana-de-açúcar com leguminosas. Sistema esse que tem crescido devido as suas inúmeras vantagens. Para mais informações do plantio meiosi, assista o vídeo abaixo.

O gasto com mudas no sistema MPB chega a ser 10 x menor do que o plantio mecanizado, onde a quantidade cai para 2,0 toneladas por hectare. O sistema além de gastar menos mudas, também aumenta o volume de cana disponível para indústria, pois a cana que seria utilizada para muda, acaba sendo direcionada para produção de açúcar e etanol. Atualmente, encontra-se mudas pelo valor médio de R$1,20 a 1,50, sendo que o espaçamento utilizado entre plantas varias de 0,5 a 0,7 m.

O sisteme de plantio MPB pode ser dividido em três etapas:

1. Corte das Mudas
As mudas são cortadas manualmente, despalhadas e levadas para o viveiro.

2. Preparo das mudas
Esta é a fase mais trabalhosa e onerosa do sistema, em que, as mudas passam por 7 etapas até estarem prontas para o plantio no campo, processo este, que demora aproximadamente 60 dias.


3. Plantio
Nesta última etapa, as mudas são transplantadas no campo, podendo se de forma manual ou forma semi-mecanizada, como pode-se ver nos vídeos abaixo:


Fonte: Agrop.com.br

Fonte: Agrop.com.br