A cana-de-açúcar é considerada uma cultura semi-perene, pois a cada quatro/cinco anos ocorre o replantio da cultura, termo esse conhecido como "reforma do canavial". A reforma do canavial ocorre devido a redução da produtividade ao longo dos cortes, sendo que, chega um momento em que a produtividade do canavial se torna tão baixa, que fica economicamente inviável mais um ano de cultivo, sendo necessário reformar o canavial. Dessa maneira, quanto mais novo o canavial, maior será a produtividade da cultura.
E aí que está o problema, praticamente toda área de reforma de cana-de-açúcar utiliza o sistema de preparo convencional do solo, sistema esse, que vem sendo deixado de lado no sistema de produção das culturas graníferas, tanto é, que hoje no Brasil, aproximadamente 30 milhões de hectares utilizam o sistema de plantio direto.
Os inúmeros benefícios do sistema plantio já é bem conhecido, que vão desde as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, bem como, no sistema de conservação do solo e no próprio manejo da água. Em relação as propriedades físicas do solo, pode-se citar a estruturação do solo devido a formação de macroagregados do solo, resultando no aumento da infiltração de água no solo e aumentando à resistência do solo a compactação. Em relação as propriedades químicas, o plantio direto proporciona a ciclagem de nutrientes e o mais importante, o aumento do teor de matéria orgânica no solo, que por sua vez, aumenta a capacidade do solo em armazenar água e reter nutrientes. Quanto a biologia do solo, o plantio direto melhora a qualidade do solo em três aspectos, na quantidade, diversidade e atividade dos microrganismos do solo.
Os principais fatores que contribuem para pouca utilização do sistema plantio direto está relacionado a correção da fertilidade do solo (calagem, gessagem e fosfatagem), controle de pragas do solo e descompactação do solo e em alguns casos, controle de plantas daninhas.
Em relação a correção da fertilidade do solo, a cana-de-açúcar ao longo dos sucessivos cortes extrai grande quantidade de nutrientes do solo. Por exemplo, em um ano de cultivo, a extração de nutrientes em um hectare se dá na seguinte sequência: K (325 kg ha-1); Ca (226,5 kg ha-1); N (179,0 kg ha-1); Mg (86,9 kg ha-1) e P (25,4 kg ha-1). Dessa maneira, ao longo de quatro ou cinco anos de cultivo a extração de nutrientes é muito intensa, ocasionando a redução da fertilidade do solo, sendo necessário portanto, a reforma do canavial para reconstrução da fertilidade do solo. Como a extração de nutrientes é muito grande, torna-se muito difícil a reposição desses nutrientes somente com a adubação de cobertura, com especial destaque ao controle do pH através da calagem. No entanto, já existem diversos estudos que demonstram que é possível ter canaviais com alta longevidade e produtivos sem a reforma do canavial, como também, diversos estudos com o uso do plantio direto na cultura da cana-de-açúcar.
O controle de pragas também é um fator que contribui para a adoção do preparo convencional do solo, dependendo da praga e da infestação, o controle mais eficiente é a destruição das soqueiras. Hoje as principais pragas de solo da cultura da cana-de-açúcar são: Migdolus (Migdolus fryanus), Bicudo da Cana-de-Açúcar (Sphenophorus levis), Cupins, Nematóides, entre outros. A destruição das soqueiras ainda é muito utilizada porque essas pragas podem atingir até 2,0 m de profundidade, e por isso, o preparo convencional auxilia em dois tipos de controle. O primeiro refere-se ao controle direto da praga com implemento agrícola e também pela exposição dessas pragas aos seus predadores. O segundo, e talvez o mais importante, é a aplicação de inseticidas de alto poder residual no solo de modo a controlar essas pragas por um grande período. Umas das técnicas mais utilizadas é a adaptação de tanques de inseticidas em grades ou subsoladores, em que, ocorre a aplicação do produto no disco de corte ou na haste, objetivando-se a aplicação em profundidade de modo a proteger o sistema radicular da planta.
E por fim, destaca-se a compactação do solo, esse que tem sido apontado por diversos pesquisadores uma das principais causas da baixa longevidade dos canaviais brasileiros. Se considerarmos um canavial em que a reforma é realizada a cada cinco anos, nesse período dependendo dos tratos culturais utilizados na cultura, o número de operação tratorizadas pode variar de 20 a 30 (adubação de cobertura, aplicação de herbicidas, colheita, transbordo, recolhimento da palha, etc). Por isso, é de extrema importância que o produtor faça o controle de tráfego, tecnologia esta que já está bem presente na cultura da cana-de-açúcar em todo o processo de produção (preparo de solo, plantio, tratos e colheita). Além do controle do tráfego de máquinas, deve-se atentar também ao momento de entrada da máquina na lavoura, pois, em muitos casos, a pressão da indústria por matéria-prima, faz com que as técnica agronômicas sejam realizadas de maneira incorreta, por exemplo, o trânsito de máquina em solos úmidos (após uma chuva), pisoteio de soqueiras, etc.
Faz-se importante ressaltar que apesar das dificuldades de implantação do sistema plantio direto na cultura da cana-de-açúcar, nos últimos anos vários estudos com plantio direto na cana-de-açúcar tem demonstrado que é possível o uso deste sistema na cultura. Além do plantio direto, o cultivo mínimo é outro sistema que também tem sido bastante utilizado na cultura, principalmente em plantio após cultivo de amendoim, crotalária, soja, entre outras.
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